Um apagão, um silêncio e uma pausa forçada
Ontem, grande parte de Portugal (e outros pedaços da Europa) ficou sem energia elétrica.
Foram cerca de 10 horas sem luz, sem internet, sem rede de celular. Por aqui, começou cerca de meio-dia.
Semáforos apagados, pessoas presas em elevadores e no metrô, cartões sem funcionar, lojas fechando.
Aqui em casa: sem café, sem poder trabalhar, sem comida quente, sem conseguir avisar o Brasil que eu talvez não conseguiria estar nas calls do dia seguinte.
Um apagão de verdade — do mundo lá fora e do mundo online.
Um silêncio. Assustador? Ou delicioso?
Depois de buscar as crianças na escola e viver a aventura de dirigir por ruas sem sinalização, caiu a ficha:
Somos absolutamente dependentes de energia. E estamos completamente viciados em tecnologia e conexão.
Mas ali, quando entendi que não havia nada que eu pudesse fazer, relaxei.
Minha filha usou a criatividade e foi brincar. Meu filho pré-adolescente usou as telas (sem internet) até o limite de suas baterias, e meu marido tambem, rs.
Eu fui ler.
Fomos ao mercado do bairro — mais por esperança de Wi-Fi do que por compras. Tinha acabado a água, o pão e o papel higiênico - tivemos flashbacks do covid e seus ítens essenciais…
Consegui mandar algumas mensagens. A rede caiu logo depois.
No café ao lado, cheio de gente liberada do trabalho, vi algo curioso:
Rostos sem telas. Pessoas conversando, rindo, tomando uma cerveja no meio da tarde.
A gente fez o mesmo.
Voltamos pra casa, acendemos velas, fizemos um lanche simples.
Por um momento, me senti transportada no tempo. Pra um tempo sem notificações. Sem multitarefa. Um tempo com presença.
Claro que pensamentos (e boatos) passaram:
“Será um ataque cibernético?”
“E se demorar dias?”
Mas respirei fundo e voltei pro agora. Para o que estava sobre o meu controle.
A única foto do dia foi da natureza, ali no jardim, intacta. Ela parecia nem saber que algo estava acontecendo.
Os passarinhos… talvez só estivessem cantando mais alto (ou era o silêncio ao redor que provocava isso?)
Pouco depois de deitar, a energia voltou.
Mas aquelas horas me deixaram um lembrete forte:
Talvez o que a gente mais precise seja de pausas.
Pausas pra sentir, observar, desacelerar.
Pausas pra escolher, com mais intenção, como queremos viver.
Não estou romantizando um mundo sem energia.
Mas talvez… um pouco menos de ruído não nos fizesse mal.
Com carinho,
Laura